terça-feira, 5 de maio de 2020

Bolsonaro usa o 'auxílio emergencial' para disseminar a covid-19 entre os mais pobres


Não é de hoje que o presidente Bolsonaro demonstra seu desprezo pela vida humana... Já defendeu a morte de pelo menos 30 mil ao afirmar que o erro do regime militar foi torturar e não matar... É fã de carteirinha do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o maior torturador da história do Brasil, que torturava desde crianças até mulheres grávidas e gostava muito de seu “trabalho”... Fez declarações absurdas sobre a pandemia da covid-19 como no último 24/03, quando disse que “São raros os casos fatais de pessoas sãs como menos de 40 anos” (e os demais?), em 27/03, quanto afirmou que “Alguns vão morrer? Vão, ué, lamento. É a vida” (isso justifica não fazer nada para minimizar as mortes?), e mais recentemente, em 28/04, quando uma jornalista começou a elaborar sua pergunta citando o fato de termos ultrapassado a China em número de mortes por covid-19, o presidente o interrompeu e soltou mais uma de suas pérolas: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias mas não faço milagre” (dispensa comentários).

Mas nesse texto vou me ater à afirmação feita pelo presidente da república em 17/03, quando disse que “Uma nação como o Brasil só estará livre quando certo número de pessoas for infectado e criar anticorpos”. Por si só a afirmação está correta. Mas temos que analisá-la de forma mais aprofundada para compreendermos todas as consequências da pretensão do chefe do executivo federal ao defender a estratégia conhecida como imunidade de rebanho, que consiste em imunizar um percentual de uma população contra um certo agente biológico de tal forma a interromper o ciclo de contágio e erradicar a doença, beneficiando indiretamente a parcela da população que não foi imunizada.

No caso do novo coronavírus, considerando seu nível de contágio, estima-se que para eliminá-lo em uma população, seja necessário imunizar 60% da mesma. E é aí que vêm os problemas dessa estratégia: ainda não temos uma vacina contra a covid-19 nem um tratamento eficaz contra seus efeitos. Ou seja, imunizar 60% do povo brasileiro significa, na prática, contaminar 126 milhões de pessoas e esperar que sobrevivam e criem anticorpos.

Especialistas estimam que 3% de todos os infectados pelo novo coronavírus precisam de tratamento em UTI, o que significa que se 126 milhões de pessoas forem infectadas em todo o território nacional, 3,78 milhões delas precisarão ser internadas em unidades de terapia intensiva, enquanto o nosso país dispõe de apenas 55.101 desses leitos (considerando as redes pública e privada, e todos os novos leitos instalados até o momento para a pandemia).

É por isso que o isolamento social é tão importante... Para reduzirmos o ritmo do contágio e evitarmos o colapso de todo o nosso sistema de saúde, fazendo com que o número de pessoas que precisam de UTI seja sempre menor que o número de leitos disponíveis, e permitindo assim que todos que precisem possam ser atendidos adequadamente; sob pena de termos centenas de milhares de mortos pela covid-19 e por todos os demais problemas que necessitam de tratamento intensivo.

O presidente Bolsonaro tem acesso a todas essas informações, mas com sua óbvia psicopatia, ele simplesmente não se importa... Faz campanha aberta contra o isolamento social e sabota as boas iniciativas dos governadores que têm o objetivo de achatar as curvas de contágio em seus respectivos estados.

Mas como o presidente poderia interferir o isolamento social imposto pelos governadores, se o STF reconheceu o poder de governadores e prefeitos para impor esse tipo de medida?

A sabotagem acontece por duas vias: A primeira se dá pelo seu discurso e suas atitudes opostos às recomendações técnicas, o que faz com que seus seguidores também tratem a pandemia que paralisou o mundo inteiro com uma “gripezinha”. A segunda via, mais cruel e maquiavélica, é utilizando o desespero da parcela mais pobre da população para provocar, propositadamente, grandes aglomerações para receber o auxílio emergencial de R$ 600,00.

Explicando melhor... O referido auxílio, que é de 3 parcelas de R$ 600,00 graças à grande pressão do Congresso Nacional, especialmente dos partidos de esquerda, pois se prevalecesse a vontade do governo seriam de apenas R$ 200,00, poderia ser pago em todos os bancos, públicos, privados e comunitários, cooperativas de crédito, casas lotéricas, correspondentes bancários, banco postal, etc., de forma ordeira e bem distribuída, de tal maneira que os beneficiários pudessem receber o dinheiro perto de suas casas, evitando assim os maiores focos de aglomerações que vemos atualmente, que são as gigantescas filas nos arredores das agências da Caixa Econômica Federal.

Vale ressaltar que os funcionários da Caixa estão trabalhando 10 a 12 horas por dia, inclusive aos sábados e feriados, para darem conta do recado. Eles NÃO SÃO CULPADOS pelas filas quilométricas nem pela demora no atendimento... São vítimas do desgoverno e, no momento, são os únicos com os quais milhões de pessoas necessitadas podem contar... Merecem todo nosso respeito e carinho.

As primeiras estimativas do governo são de 54 milhões de beneficiários do auxílio emergencial, podendo chegar a 75 milhões. Se o pagamento continuar concentrado apenas na Caixa Econômica Federal, serão no mínimo 54 milhões de pessoas aglomeradas contaminando umas às outras e levando o vírus às suas famílias.

O resultado disso não pode ser outro... O colapso total do sistema de saúde, em um curto espaço de tempo, que por sua vez resultará em uma grande tragédia humanitária, nos moldes da que vemos no Equador, por exemplo.

O governo federal sabe de tudo isso? Certamente. Sabe também que, mesmo com os decretos de isolamento social dos governos estaduais, nenhum governador vai impedir os pagamentos dos auxílios emergenciais, mesmo da maneira desastrosa como estão sendo feitos, pois são essenciais para a sobrevivência do povo nesse momento.

Essa foi a forma com a qual o presidente da república conseguiu impor a sua vontade e provocar as aglomerações que os governadores tentaram impedir. E depois ainda dirá, com toda a cara-de-pau que lhe é peculiar – “Desde o começo eu defendi o fim do isolamento social, taí o resultado, o povo se contaminou do mesmo jeito. Talkey?” – Alguém duvida?

Então porque o presidente Jair Bolsonaro, o “salvador da pátria”, o “mito”, não muda a estratégia de pagamento dos auxílios emergenciais? Na minha humilde opinião é porque pra ele, cada idoso que morrer é uma aposentadoria a menos pra pagar... Porque pra ele, cada pobre que morrer é um desempregado a menos nas estatísticas e para bancar saúde, educação, segurança, etc... Porque pra ele essa é uma forma de matar bem mais que os 30 mil que ele deseja há tanto tempo, com requintes de crueldade, e usando apenas sua caneta azul... Porque pra ele não importa de morrerem dezenas ou centenas de milhares de brasileiros, o que importa é que aqueles que bancaram a disseminação das mentiras que o elegeram, que são tão psicopatas quanto ele, continuem o apoiando.

Com essa única decisão de pagar o auxílio emergencial através de um único banco, Bolsonaro derrota os governadores em relação ao isolamento social. E quando ele vence, quem perde é o Brasil e seu povo, principalmente os mais pobres.

Aos que continuam apoiando esse governo genocida, que vivam bastante para verem os “resultados” alcançados pelo monstro que alimentam e para sentirem a culpa por todas as vítimas do demônio que empoderaram.

Por Robson L. A. Araujo